Crônica

Ansiedade.

A parte mais difícil é entender. É a constante e, muitas vezes falha, tentativa de entender o que a sua cabeça está tentando te dizer. É como se fosse a sua própria voz ecoando pensamentos infinitos e ininterruptos. É confuso, é cansativo e é frustrante. 

No meu caso, eu viro uma vitrola. Eu não paro de falar. Enquanto a minha cabeça está pensando, eu estou falando. Na maioria das vezes, isso acontece enquanto eu estou sozinha. Quando alguém presencia essa cena é possível perceber a realidade da expressão de quando dizem que eu tenho o meu próprio mundo. 

A minha mente é algo incontrolável. E em situações como essa ela fica ainda pior. Quando eu também acho que isso não é possível, eu percebo que durante cada momento como esse, ela se supera. É uma roda-gigante na velocidade de uma montanha russa.

Às vezes ela gira muito rápido e de repente para. Nesse instante, quando isso acontece dentro da minha cabeça, na vida real eu entro em transe. Enquanto a roda gigante está parada se preparando para começar a girar a todo vapor na direção contrária, eu com certeza também estou parada, provavelmente encarando o nada e também me preparando para começar a sentir tudo de novo. Só que ao contrário. Mas eu nunca sei qual é o lado ao contrário. 

Eu digo que é uma roda-gigante porque são pensamentos que sempre voltam para o mesmo lugar. É como se meu cérebro virasse um hamster e meus pensamentos fossem a rodinha onde ele corre. E corre o mais rápido que pode. Mas sempre sem sair do lugar. 

Eu consigo dar a volta no mundo que só existe dentro da minha cabeça. É um fato e eu já aceitei, é realmente uma explicação bem plausível que eu tenha mesmo um mundo que só existe dentro de mim. Eu não digo um “mundo” em si, mas tenho pra mim que está mais para uma dimensão paralela.

Eu vivo e entendo tudo o que há nesse mundo real comum para todos, mas desde sempre eu vejo coisas diferentes nesse mundo. Não que eu exergue coisas sobrenaturais, mas sim, que eu enxergo tudo de uma perspectiva diferente. E quanto mais eu tentava explicar, durante todos esses anos de vida, mais eu percebia que era impossível e inútil. Eu aceitei a terminação do mundinho que só existe na minha cabeça.

Em momentos como esse é difícil lidar com ambas as dimensões. A que eu estou e a que eu tenho em mim. Elas se confudem e então me confudem. Eu sinto demais aqui dentro e começo a externar demais pra fora. E isso começa a fugir do controle. Normalmente, eu sei exatamente a dosagem daquilo que eu externo. Eu controlo, eu policio, eu domino. 

Em situações assim, eu sinto o controle fugindo das minhas mãos. É como se meu mundo passasse por alguma transição de tempos em tempos. E eu consigo entender quando sou eu quem provoco essa transição por causa de algum fator externo. Por exemplo, uma situação de estresse muito intenso que acaba danificando o controle que tenho por dentro. Se algo me apavora por fora, o que acontece por dentro é sempre algo mil vezes maior. E aí começa o conflito de dimensões.

Nesse exato momento, eu sinto que é alguma transição interna que eu não consigo controlar. Teoricamente nada aconteceu no meu mundo externo pra isso se iniciar. Eu estava bem. Eu sei que estava bem. Eu não sei o que aconteceu entre o momento que eu me vi bem até o momento que tudo começou a desmoronar.

Mas na verdade, hoje eu sei que não acordei como ontem. Hoje eu acordei sem a mesma vontade que acordo quando estou empolgada com alguma coisa, o que não é usual. Quando estou empolgada com algo, eu faço o meu processo de acordar e o sentimento de empolgação já começa a me guiar e a me salvar durante o resto do dia. 

Hoje, eu não senti isso. Eu abri os olhos e já me senti diferente. Em situações assim, em que eu meio que consigo sentir que algo está por vir dentro de mim, eu tento me enganar.

É como se o mar sentisse que ao longo do dia as ondas dentro de si começarão a se retrair para formar uma tsunami, mas mesmo sentindo isso, ele não tenta impedir porque sabe que será em vão, mas tenta se manter calmo até quando é possível. Até quando a primeira crista da onda gigante começa a se formar. O mar e eu sabemos quando esse momento chega, não há mais nada para se fazer. 

Mas o ponto é, não que houvesse algo para se fazer antes. Tentar se enganar é ápice do que pode ser feito para tentar retardar ao máximo esse momento. É como se, durante o dia todo, houvesse dentro de mim uma discussão entre o meu corpo e o meu mundo. 

Eu dizendo que está tudo bem, não há porquê se desesperar. E ele dizendo que está tudo errado! É preciso desmoronar! Nada adianta! É preciso colocar tudo a baixo! Eu não quero saber se vai ser pior pra recomeçar! É preciso cair! 

Hoje eu passei o dia todo sem me mexer demais. Sentei no sofá, coloquei um filme repetido e me acomodei na posição mais confortável possível. E ali fiquei. Naquele momento eu meio que sabia que estava tentando evitar uma catástrofe. Eu já sabia que o meu sistema emocional auto imune estava tentando se proteger. Mesmo sem nunca saber o porquê eu sempre sei quando ele age. 

Hoje à noite, agora a pouco, eu desmoronei. Pra ser bem sincera, eu já passei por desastres maiores. Muito maiores. Mas entendo que tudo é proporcional. Há alguns dias que eu não venho dormindo muito bem. E o problema nisso é, nada tira o meu sono, então quando acontece é compreensível saber que há algo de errado.

A parte mais difícil é entender. Mas para entender é preciso admitir. E toda vez que eu admito fica mais fácil entender o que há por trás. Eu admiti que estava numa situação como essa quando comecei a escrever esse texto. 

Eu admiti pra mim, pro meu mundinho e pra todas as lágrimas que eu não sei da onde vieram. E nem porquê vieram agora e não antes, ou, por que não depois? Mas ainda assim, elas molharam meu rosto num volume maior do que eu estava esperando e numa frequência totalmente descompassada. Eu admiti e entendi.

É mais ou menos isso que acontece durante uma crise de ansiedade. 

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